CRÔNICA SOBRE AS ESCOLAS ANDRADE - BH
(Por Percy Maia, Resendecostence, filho de Abigail Andrade Alves Maia e Ademar Resende Maia - famílias Alves de Andrade/Maia)
CONTA ESTÓRIA QUEM TEM HISTÓRIA PARA CONTAR
Meus queridos irmãos, filhos, netos, sobrinhos, primos, amigos e adjacentes, bem como aos professores, funcionários e alunos, quero contar-lhes um pouco da história das Escolas Andrade. Teria que ser escrito um livro com mais de 200 páginas para escrever uma história que duraram 50 anos. Mas, neste momento, disponho de poucas páginas. Bem, quem sabe talvez algum dia, virará um livro para contar uma história completa das Escolas Andrade!
Dizem que uma imagem “vale por mil palavras” e um “pequeno detalhe” podem trazer à mente informações preciosas. Repare bem a foto e os detalhes do rodapé, por si só, os detalhes contam o envolvimento da família Andrade/Maia com as Escolas Andrade. Espero que essas premissas sejam verdadeiras, então vamos começar pelo começo:
Era o início do ano de 1963, eu era funcionário do Banco da Lavoura (Banco Real, hoje Santander), trabalhava na Sede do Banco na Praça 7 em Belo Horizonte e era responsável por datilografar e imprimir as cartas, avisos e cobranças aos clientes do banco. O gerente gostava muito dos meus textos, uma forma cordial para cobrar os inadimplentes que se esqueciam de pagar as duplicatas. Tudo era feito nas máquinas de escrever e duplicadas (copiadas) nos mimeógrafos. Tudo mecânico! Nada digital! Tornei-me um especialista em datilografia e redação de cartas comerciais. Eu dizia:
“Um dia vou montar uma Escola de Datilografia no centro de Belo Horizonte”
Neste mesmo ano, meu irmão Francisco Andrade Maia, ex-seminarista, egresso do Seminário Dom Bosco de São João del-Rei, lecionava aulas de português num colégio na Cidade Industrial de Belo Horizonte. Ele me procurou no banco e me disse que estava com a intensão de montar uma escola de datilografia próxima ao colégio onde lecionava, veja a coincidência, como no dito popular: “juntou a fome com a vontade”.
Éramos apenas dois jovens ricos em entusiasmo e otimismo, com imensa vontade de vencer na vida e ajudar a família. Dois jovens, sem eira, sem beira e sem dinheiro na algibeira e queriam ser empresários... Há uma passagem bíblica que diz: “Procurai e encontrareis: Batei e vos será aberto; Pedi e recebereis”. (Lucas 11, 5-13) Minha mãe, Abigail Andrade, outra desvairada otimista, dizia: “A fé move montanhas”! Então, partimos para a ação: Procurar e encontrar e encontramos um local para o nosso negócio, uma lojinha pertinho do colégio e de um cinema no Bairro das Indústrias. Batemos à porta e fomos atendidos, o proprietário nos alugaria a loja. Para abrir a escola precisava das máquinas de escrever, dos móveis e propaganda. Não havia dinheiro para comprar uma única máquina!
Descobrimos que a Remington Rand do Brasil, uma multinacional americana, fabricante das famosas máquinas Remington, oferecia incentivos para quem quisesse montar escolas de datilografia, desde que colocassem o nome de Escolas Remington. Acontece que, já havia na região outra escola registrada com esse nome. Então pedi: deixe-nos colocar o nome de Escolas Andrade, pois o prof. Andrade como é conhecido no colégio poderá trazer muitos alunos interessados para a nossa escola. Estudar datilografia, naquela época era uma necessidade para quem quisesse trabalhar em um banco ou escritório, tal como estudar uma segunda língua nos dias atuais.
Convencemos o vendedor que nos permitiu colocar o nome de Escolas Andrade de Datilografia Remington. Mais tarde, apenas ESCOLAS ANDRADE, continuando na pluralidade ‘Escolas’ pois não seriam apenas cursos de datilografia. Seriam muito mais!
Faltava agora receber autorização para comprarmos 5 máquinas, sem um único centavo de entrada. O representante da Remington, olhando bem em nossos olhos, disse-nos: vocês são muito corajosos e ‘caras de páu’, querem comprar máquinas sem dinheiro, nem têm grana sequer para uma pequena entrada? Pedi, novamente pelo amor de Deus: ajude-nos senhor, garanto-lhe que com as primeiras matrículas traremos o dinheiro para o pagamento, pagaremos as máquinas e vamos encomendar mais 15, a loja cabe 20 máquinas, ficará muito feia só com 5. O cara olhou novamente para as nossas caras, estatelou os olhos e vocalizou: - Não tem jeito! - e disse: leva as máquinas e pega mais 5 livrinhos do método de datilografia, tudo ficará em custódia, se não pagarem, vou lá e busco tudo de volta. Afirmamos – combinado! Daqui a 30 dias voltaremos aqui para pagar a conta e levar mais 15 máquinas!
Empenhei meu salário de gratificação no banco e fiz um pequeno empréstimo para comprar as mesas, as cadeiras, imprimir uns folhetos de propaganda e colocar uma placa bem na entrada da loja: ESCOLAS REMINGTON DE DATILOGRAFIA ANDRADE.
O nosso patrimônio era: coragem, determinação, disposição, entusiasmo e loucura!
A Fé em Deus e em Si Mesmo tem o poder do convencimento e abrimos a nossa escola. Aliás, na pluralidade, Escolas Andrade. Pois não seria apenas uma escola de datilografia, foi muito mais do que isso. 5 unidades em Belo Horizonte, 2 em Divinópolis, 1 em Juiz de Fora e outra no Recife-PE. Mais de 300 máquinas de escrever de todas as marcas, Remington, Ollivetti, Underoud, IBM. Quando vieram os computadores, migramos pra lá também com os cursos de informática.
Fomos além, muito além de uma simples escola de datilografia, instalamos cursos de secretárias executivas, contabilidade, supletivo, pré-vestibular, preparatório para as escolas militares, relações humanas, línguas, entre outros. Criamos oportunidades para centenas de estudantes e estagiários universitários, professores, secretárias e funcionários; milhares de alunos frequentaram a nossa escola.
Escola Andrade teve como mentora a guerreira Abigail Andrade (in memoriam) filha de um ilustre cidadão da Cidade de Resende Costa-MG, também professor, fundador de uma das primeiras escolas municipais da sua cidade no início do século XIX. Maestro e delegado de polícia, Francisco Alves de Andrade (Sr. Chiquinho Alves).Esta é a herança!
Também aqui temos que fazer uma homenagem especial à Maria Terezinha Maia de Souza (in memoriam), que trabalhou como secretária da escola até a sua aposentadoria, formada em Letras PUC/MG, tornou-se também diretora e sócia das Escolas Andrade.
Nosso tributo e homenagem especial ao Professor Francisco Andrade Maia (in memoriam), sócio fundador e diretor das Escolas Andrade. Que, desde o início, não mediu esforços, emprestou o seu nome Prof. Andrade e carreou naqueles primeiros momentos decisivos da década de 60, os alunos para aprender datilografia nas Escolas Andrade. A ele a nossa imensa gratidão e eterna saudade!
A Escola Andrade, foi como uma provedora da nossa família Andrade/Maia, todos os meus nove irmãos, de uma forma ou de outra foram beneficiados, direta ou indiretamente, com oportunidades de trabalho e referências propiciados pela existência das Escolas Andrade, especialmente naqueles tempos difíceis quando iniciamos as nossas vidas na Capital Mineira.
Enfim, tudo tem um fim!
Nascemos, crescemos, desenvolvemos e perecemos. É assim para todos! Também as empresas nascem e morrem ou renascem de outras formas. Escola Andrade não fugiu à regra e encerrou as suas atividades em 2013. Viveu meio século de intensas atividades, fazendo história e contribuindo para o bem social na pátria nossa. Uma trajetória de sucessos, vitórias e derrotas, marcadas e gravadas na memória de quem a experienciou no seu tempo!
Enfim. Deus Seja Louvado!
Crônica de Percy Maia
Setembro/19
Alguém escreveu: “Um dia a gente chega, outro dia a gente vai embora!”